INTRODUÇÃO: Crianças infectadas pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) apresentam alterações, tanto na imunidade humoral como na imunidade celular, que podem levam a uma resposta imunológica ineficaz a determinados antígenos vacinais específicos e/ou a uma redução precoce dos níveis de anticorpos considerados protetores após a imunização. Esta baixa proteção imunológica contra antígenos vacinais deve-se a um defeito no processamento de antígenos, uma falha na geração de memória imunológica e/ou à perda quantitativa e funcional e células T e B de memória. Por outro lado, a introdução da terapia antirretroviral potente (HAART) leva a uma supressão da replicação viral e à restauração parcial da função imunológica, incluindo a resposta imune a antígenos vacinais. Estudos recentes têm demonstrado que apenas uma pequena porcentagem de crianças infectadas verticalmente pelo HIV em uso de HAART mantém níveis de anticorpos protetores após a imunização primária contra o vírus da hepatite B (VHB). Entretanto, os fatores associados à persistência de anticorpos protetores após a vacinação primária e de resposta à revacinação são pouco esclarecidos. OBJETIVO: Avaliar a persistência dos níveis de anticorpos protetores contra o VHB em adolescentes infectados verticalmente pelo HIV em uso de HAART e resposta à revacinação. MATERIAIS E MÉTODOS: O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e realizado no Ambulatório Pediátrico de Aids da própria instituição. No período de janeiro de 2006 a agosto de 2007, 40 adolescentes infectados verticalmente pelo HIV (grupo HIV) foram recrutados em um estudo prospectivo, longitudinal, controlado e intervencionista. Vinte e três adolescentes saudáveis HIV-negativos foram selecionados para constituir o grupo controle. Os critérios de inclusão para ambos os grupos foram: idade de 10 a 20 anos; ausência de história prévia de doença hepatite B; e imunização completa contra o VHB pelo menos quatro anos antes do início do estudo. Os critérios de exclusão foram: transfusão de sangue e hemoderivados no prazo de seis meses antes do início do estudo; doença febril aguda sete dias antes da entrada do estudo, história prévia ou evidência sorológica de infecção pelo VHB (presença de anticorpos anti-HBc). Além disso, todos os adolescentes de ambos os grupos tinham recebido pelo menos três doses da vacina recombinante contra hepatite B na imunização primária. Os adolescentes com níveis de anticorpos anti-HBs < 10 mUI/mL foram revacinados contra VHB até um máximo de seis doses, no intervalo de 30 a 60 dias. Os adolescentes do grupo HIV foram vacinados com dose dupla da vacina recombinante contra o VHB (20 µg de Euvax-B®, LG Chemical Ltd., da Coréia). Os adolescentes do grupo controle foram revacinados com a vacina recombinante brasileira contra o VHB, na dose padrão (10 µg de Butang®, do Instituto Butantã de São Paulo, São Paulo). A maturação de linfócitos foi avaliada por meio do perfil fenotípico pelo método de citometria de fluxo. A análise estatística foi realizada pelo programa SPSS versão 12.0, com nível de significância p < 0,05. RESULTADOS: Na inclusão do estudo, os níveis de anticorpos anti-HBs ≥ 10 mUl/mL foram encontrados em 18/40 (40,5%) dos adolescentes infectados pelo HIV e 18/23 (78,3%) dos adolescentes do grupo controle. Os adolescentes do grupo HIV com anti-HBs ≥ 10 mUl/mL apresentaram maior porcentagem de células TCD4 + , maior porcentagem de células TCD8+ naive e de memória central, menor ativação imunológica. Na revacinação, 18/12 (66,7%) adolescentes do grupo HIV apresentaram níveis de anticorpos anti-HBs ≥ 10 mUl/mL. Os adolescentes que não responderam à revacinação apresentaram uma menor porcentagem de células TCD4 + , maior ativação imunológica e carga viral detectável. CONCLUSÃO: Esses achados sugerem que a maior porcentagem de células TCD4+, a menor ativação imunológica e o melhor controle da replicação do HIV podem estar associados à melhor resposta vacinal contra o vírus da hepatite B.