Segundo Lacoue-Labarthe, a filosofia tardia de Heidegger se caracterizaria por um “nacional-espiritualismo†de teor quase religioso, articulado por dois procedimentos teóricos complementares: por um lado, pelo caráter “geoetnopolÃtico†de sua reflexão ontológica, eufemismo com o qual o crÃtico francês alude ao caráter supostamente fascista da filosofia de Heidegger; e, por outro lado, pela sacralização do texto poético de Hölderlin, interpretado como “texto sagradoâ€. Em meu comentário crÃtico à apresentação proposta por Lacoue-Labarthe à conferência Die Armut (A pobreza), de Heidegger, argumento, em primeiro lugar, que a hermenêutica epocal do ser deve ser entendida como uma superação da anterior concepção heideggeriana a respeito da missão histórico-espiritual do Dasein do povo alemão. Em segundo lugar, argumento que a hermenêutica epocal heideggeriana não se confunde com qualquer procedimento de sacralização dos textos poéticos, de sorte que o privilégio concedido à poesia no contexto do pensamento tardio de Heidegger mereceria ser mais bem caracterizado levando em conta sua exigência de encontrar uma linguagem não calculadora, pós-metafÃsica.
According to Lacoue-Labarthe, Heidegger’s later philosophy is characterized by a sort of quasi-religious “national-spiritualism†articulated by two theoretical procedures: on the one hand, by his attribution of a “geo-ethno-political†character to his ontological reflection, an aspect which would carry together with itself a fascist penchant; on the other hand, by his sacralization of Hölderlin’s poetry, which would be interpreted by him as “sacred textâ€. In my critical commentary to Lacoue-Labarthe’s presentation of Die Armut (On poverty), a Heidegger’s conference, I argue, firstly, that Heidegger’s hermeneutics of Being is to be understood as the overcoming of his previous considerations about the German people’s historical mission; and secondly, that Heidegger’s hermeneutics of Being has nothing to do with the sacralizing of poetical texts, but rather with the search of another way of saying, by means of a non-calculative, post-metaphysical language.