O presente artigo tem como objetivo apresentar e discutir tipos de construtivismo moral de cunho kantiano, particularmente frente ao problema de justificação do requerimento de respeito por seres humanos. Para tanto, tratarei de três tipos de construtivismo, sendo o primeiro uma espécie de base para os dois seguintes. Em primeiro lugar, considero a interpretação da filosofia moral de Kant como sendo um construtivismo moral, tal como apresentada por John Rawls em Lectures on the History of Moral Philosophy(2000). De tal interpretação e decorrentes implicações, volto as atenções, em segundo lugar, ao construtivismo de Onora O’Neill –tal qual considerado em Constructions of Reason(1989) –bem como ao construtivismo de Christine Korsgaard –em Creating the Kingdom of Ends (1996) e The Sources of Normativity(1996) –ambos tomando, em alguma medida, a interpretação rawlseana como ponto de partida. Deste modo, este artigo seguirá o seguinte percurso argumentativo: (1) exposição das principais noções da interpretação de Rawls (procedimentos de construção, concepção de pessoa e sociedade); (2) apresentação dos principais argumentos de O’Neill (sobre a possível agência de uma pluralidade de seres racionais distintos, porém inter-relacionados) e Korsgaard (com seu chamado “realismo procedural” e o valor que nós conferimos à nossa própria humanidade); e (3) discussão acerca de vantagens dos tipos de construtivismo considerados, sobretudo com relação à questão sobre o requerimento de respeito por seres humanos. Minha hipótese é de que os três tipos de construtivismos são interessantes do ponto de vista de fornecer uma justificação alternativa para requerimentos morais (como o requerimento de respeito), notadamente por meio de procedimentos de construção de princípios morais.
This paper aims to present and discuss kinds of moral constructivism with Kantian influence, particularly regarding the justification problem concerning the requirement to respect human beings. In that regard, I shall consider three kinds of constructivism, being the first somehow a basis to the two following. First, I consider John Rawls’ interpretation of Kant’s moral philosophy as a moral constructivism, such as presented in his Lectures on the History of Moral Philosophy (2000). Second, from that interpretation, as well as its implications, I shall consider OnoraO’Neill’s constructivism –in Constructions of Reason(1989) –, and Christine Korsgaard’s –in Creating the Kingdom of Ends(1996) and The Sources of Normativity(1996) –both considering to some extend Rawls’ interpretation as a starting point. Thus, this paper is divided in the following: (1) exposing Rawls’ main notions regarding “Kant’s” constructivism (procedures of construction, conceptions of person and society); (2) presenting O’Neill’s (concerning a possible agency of a plurality of distinct, but interrelated rational beings) and Korsgaard’s main arguments (her so-called “procedural realism”, and the value we confer upon our own humanity); and (3) discussing advantages concerning the kinds of moral constructivism here considered, especially with regard to the question about the requirement to respect human beings. My hypothesis is that the three kinds of constructivism are interesting from the point of view of providing an alternative justification to moral requirements (such as the requirement of respect), notably by means of a procedure of construction of moral principles.