A ilimitação tradicionalmente atribuída ao poder constituinte originário na literatura constitucional demonstra-se incompatível com o paradigma do Estado Democrático de Direito. Isso posto, a partir de uma compreensão contextual da teoria clássica, articulada durante a Revolução Francesa, no fim do século XVIII, a presente pesquisa desenvolve uma releitura do poder constituinte. Para tanto, percorrem-se os debates doutrinários travados em torno das características definidoras e da natureza da instância à qual cabe produzir a Lei Maior, ou seja, a Constituição, dando origem ao Estado. Ademais, investiga-se a interface estabelecida entre a titularidade do poder originário e a legitimidade de sua obra, proporcionando uma leitura crítica – e necessariamente pluralista – do alcance conceitual e da centralidade assumida pelo elemento povo no processo constituinte. Por derradeiro, a pesquisa centra esforços na sistematização de contributos teóricos que sustentam a incidência de limites sobre a atividade do poder constituinte originário. Na esteira da identificação de que se trata de uma manifestação limitada do ponto de vista jurídico, conclui-se que o imperativo de proteção da dignidade da pessoa humana fixa um limite material ao exercício do poder criador da Constituição, de maneira que se prenuncia a ilegitimidade da disciplina constitucional na hipótese de violação ao princípio em comento.
The boundlessness traditionally attributed to the originary constituent power within the constitutional literature proves to be incompatible with the paradigm of the Democratic Rule of Law. That said, based upon the contextual understanding of the classical theory, articulated during the French Revolution, at the end of the 18th century, this research develops a reassessment of the constituent power. For this, it explores the doctrinal debates surrounding the defining characteristics and nature of the authority responsible for producing the Major Law, that is, the Constitution, giving rise to the State. In addition, it investigates the interface established between the titularity of the originary power and the legitimacy of its work, culminating in a critical – and necessarily pluralistic – evaluation of the conceptual scope and centrality assumed by the people element in regard to the constituent process. Finally, the research focuses on the systematization of theoretical contributions that sustain the incidence of limits on the activity of the originary constituent power. In the wake of identifying this as a limited manifestation from a juridical standpoint, it is concluded that the imperative of protecting the dignity of the human person establishes a material limit to the exercise of the power to create the Constitution, in such a way as to foreshadow the illegitimacy of the constitutional discipline in the event of a violation to the principle in question.
La ilimitación tradicionalmente atribuida al poder constituyente originario en la literatura constitucional se muestra incompatible con el paradigma del Estado Democrático de Derecho. Dicho esto, partiendo de una comprensión contextual de la teoría clásica, articulada durante la Revolución Francesa, a finales del siglo XVIII, esta investigación desarrolla una relectura del poder constituyente. Para eso, se recorren los debates doctrinales en torno a las características definitorias y a la naturaleza de la autoridad encargada de producir la Ley Mayor, es decir, la Constitución, dando origen al Estado. Además, se investiga la interfaz establecida entre la titularidad del poder originario y la legitimidad de su obra, proporcionando una lectura crítica –y necesariamente pluralista –del alcance conceptual y de la centralidad asumida por el elemento pueblo en el proceso constituyente. Finalmente, la investigación se centra en sistematizar las contribuciones teóricas que sostienen la incidencia de límitesen la actividad del poder constituyente originario. Tras la identificación de que se trata de una manifestación limitada desde el punto de vista jurídico, se concluye que el imperativo de protección de la dignidad de la persona humana establece un límite material al ejercicio del poder creador de la Constitución, de modo que se prefigura la ilegitimidad de la disciplina constitucional en caso de violación al principio en cuestión.