Propostas para implementar políticas focadas que pretendem combater os efeitos da discriminação racial no Brasil têm provocado muita polêmica na sociedade brasileira. Neste debate, os posicionamentos e as contribuições de antropólogos brasileiros, tanto para a defesa quanto para o questionamento destas políticas de identidade, ganharam destaque. Este artigo propõe-se a analisá-las ao exemplo de dois casos emblemáticos: o dos direitos, garantidos pela Constituição, aos remanescentes de comunidades dos quilombos e o da implementação de cotas raciais em universidades públicas. Especial atenção é dada à maneira como conceitos paradigmáticos do pensamento antropológico – raça, cultura, identidade (etnicidade) – são acionados nas respectivas linhas de argumentação.
Proposals to implement targeted policies aimed at combatting the effects of racial discrimination in Brazil have provoked great controversy in Brazilian society. In this debate, perspectives and contributions of Brazilian anthropologists, both in defense and questioning these identity politics, have been widely commented upon. This article proposes to analyze these policies using examples of two representative cases: the rights guaranteed by the Constitution to the remnants of maroon communities (quilombos) and the implementation of racial quotas in public universities. Special attention was given to the way in which paradigmatic concepts in anthropological thought – race, cultural, identity (ethnicity) – are mobilized in these respective lines of argument.