Minha intenção neste artigo será tratar das políticas de transferência de renda enquanto uma das vertentes do movimento de expansão do capitalismo global, materializado em políticas de cunho “progressista” que afetam diretamente a vida e o cotidiano dos Kalapalo de Aiha. Por um lado, as políticas de transferência de renda se pautam em conceitos que desconsideram as especificidades dos povos indígenas e que incitam uma série de equívocos, que incidem sobre os processos de cadastramento e inclusão das famílias nos programas. Esses equívocos, por sua vez, geram uma série de cobranças e expectativas muitas vezes frustradas, tanto no que diz respeito ao Estado e seus representantes, quanto por parte dos Kalapalo. Por outro lado, ao serem incorporados aos circuitos “tradicionais” de circulação de bens, esses recursos passam a compor as redes que estruturam as relações de parentesco e aliança, dentro e fora das aldeias, em momentos cotidianos ou rituais.
In this article, I intend to discuss the cash transfer policies as one side of the capitalist global expansion. This movement materializes itself in “progressive” policies that affect the daily life of the Kalapalo people, from Aiha village. On one hand, cash transfer policies are based on concepts that disregard the indigenous peoples’ specificities, and that lead to a series of misunderstandings, which affect the processes of enrollment and inclusion of families in the policies. These misunderstandings, or equivocations, to use Viveiros de Castro’s conception, in turn, engender expectations, often frustrated, both toward the State and its representatives, as well as toward the Kalapalo. On the other hand, when these resources are incorporated into the “traditional” circuits of circulation of goods, they become part of the networks that structure kinship and alliance relationships, inside and outside the villages, in the daily life or in ritual moments.