Neste artigo, que dialoga com as ideias centrais da pesquisa de doutorado concluída por mim em 2020, proponho pensar a literatura brasileira pós-Holocausto como uma literatura emergente dentro do campo literário do Brasil. A emergência, conceituada como um potencial e um ato de ruptura, tem sido condicionada pela pesquisa teórico-crítica que viu a literatura em questão como marginalizada, étnica e alheia às realidades brasileiras. Para superar tal confinamento, contextualizo-a como um conjunto literário autônomo e heterogêneo que irrompe as fronteiras entre as noções da literatura brasileira, da literatura judaica e da literatura do Holocausto. Além disso, como uma característica particular e um parâmetro primário da sua emergência, chamo atenção à presença de memórias entrelaçadas de várias histórias de violência que provocam uma reflexão acerca de novas maneiras de rememoração no Brasil pós-ditatorial.
In this article, which dialogues with the central ideas of the doctoral research I completed in 2020, I propose to think of post-Holocaust Brazilian literature as an emerging literature within the literary field of Brazil. The emergence, conceptualized as a potential and an act of rupture, has been conditioned by theoretical-critical research that saw this literary expression as marginalized, ethnic and alien to Brazilian realities. In order to overcome this confinement, I contextualize it as an autonomous and heterogeneous literary ensemble that erupts the boundaries between the notions of Brazilian literature, Jewish literature and Holocaust literature. In addition, as a particular characteristic and primary parameter of its emergence, I draw attention to the presence of intertwined memories of various stories of violence which provoke a reflection about new ways of remembrance in post-dictatorial Brazil.