Tarallo (1993) propõe que a virada do século XX é um marco para a história do Português Brasileiro (PB), em ocorre a emergência de uma gramática brasileira diferente da gramática do português europeu, principalmente no que se refere à preferência por sujeitos plenos e ordem SV rÃgida (Tarallo, 1993). O PB apresenta caracterÃsticas de uma lÃngua parcialmente pro-drop, isto é, um sujeito nulo de terceira pessoa com um referente indeterminado (Holmberg, 2006, Cavalcante, 2007). Uma das consequências dessa mudança recai na posição do sujeito que passa a ser preferencialmente anteposto ao verbo, fazendo com que se possa afirmar que o PB é uma lÃngua de ordem VS restrita (Kato, Cyrino, Duarte, Berlinck, 2006). Neste trabalho, observamos a posição do sujeito numa amostra de cartas pessoais que compõem o Corpus Compartilhado Diacrônico: Cartas Pessoais brasileiras (http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico/). Trata-se de uma amostra composta de cartas escritas entre o final do século XIX e inÃcio do século XX trocadas entre casais e/ou entre os filhos dos seguintes acervos: Ottoni; Oswaldo Cruz (1889-1915); Affonso Penna; Pedreira Ferraz Magalhães e Jayme-Maria. A hipótese principal que defenderemos aqui é que é possÃvel detectar competição de gramáticas (Kroch, 1989) entre os missivistas no que se refere à posição do sujeito relacionada, principalmente, ao papel social dos missivistas em questão. Por se tratar de correspondência de casais, podemos verificar, já no século XIX, nas cartas das missivistas mulheres um padrão de ordem VS muito parecido com o atual encontrado para o PB: restrito a construções inacusativas e apresentativas; ao passo que nas cartas dos missivistas homens, encontramos diferentes padrões de ordem VS. Isso pode ser explicado por contingências históricas que diferenciam como podemos perceber a configuração da gramática do PB em textos escritos a partir do século XIX: ao longo do século XIX e até meados do século XX, o papel da mulher no Brasil restringe-se aos deveres domésticos, ao passo que cabe ao homem não só o papel de provedor, mas no caso dos nossos missivistas, o papel de senador, médico, presidente. Nesse contexto, acreditamos que nas cartas das missivistas encontraremos padrões mais próximos do PB atual, do que nas cartas dos missivistas.
Tarallo (1993) proposes that the turn of the 20th century is a landmark in the history of Brazilian Portuguese (BP), with the emergence of a Brazilian grammar different from the European Portuguese one specially in relation to the preference for lexical subjects, instead of pronominal subjects and a strict Subject-Verb order (Tarallo, 1993). BP has been analyzed as a partially pro-drop language, in which the third person singular subject is interpreted as an arbitrary subject (Holmberg, 2006, Cavalcante, 2007). One of the consequences of this change is that subjects are preferably placed before verbs, thus, it is possible to affirm that in BP VS order is restricted to unaccusative sentences. In this paper, we analyze the subject position in a sample of private letters which are part of the Corpus Compartilhado Diacrônico: Cartas Pessoais brasileiras (Shared diachronic corpus: Brazilian private letters) http://www.letras.ufrj.br/laborhistorico/). It is a sample of letters written between the late nineteenth and early twentieth century, exchanged between couples and/or among children, from the following collections: Ottoni; Oswaldo Cruz (1889-1915); Affonso Penna; Pedreira Ferraz Magalhães and Jayme-Maria. The main hypothesis of the study is that it is possible to detect grammar competition (Kroch, 1989) between the correspondents regarding the position of the subject, mainly related to the social role of the writers in question. As they are couples correspondence, even in the nineteenth century, we can see in the women's letters a pattern of VS order very similar to the current BP pattern: they are restricted to unaccusative and VS constructions; while in the letters written by men, we found different patterns of VS order. This can be explained by historical contingencies that differentiate, as we can see, the configuration of BP grammar in texts written from the nineteenth century on: through the nineteenth century until the mid-twentieth century the role of women in Brazil is restricted to household chores, whereas the men had not only the role of the provider, but in the case of our correspondents, a senator, doctor, president role. In this context, we believe that in women's letters we will find patterns closer to current BP than in men's letters.