O Nordeste brasileiro, por ter sido a primeira região colonizada a prosperar, teria recebido da metrópole modelos sócio-econômico-culturais ainda muito próximos dos medievais. Dessa forma, alguns escritores nordestinos funcionam como porta-vozes de uma tradição ibérica relida pelo sertanejo. Este artigo discute aspectos da peregrinação, presentes no imaginário sertanejo, que se ligam à religiosidade medieval e estão delineados em O Cabeleira, de Franklin Távora, romance inaugural da "literatura do norte". Para o imaginário sertanejo, o sertão é um lugar de contradições e mistérios, delineado sob diferentes formas na tradição literária brasileira: o sertão paraÃso, o sertão inferno e o sertão purgatório. Este último funcionaria como o deserto, um lugar de provações e sofrimentos, que permite a salvação por meio do padecimento, como se correspondesse ao tempo dos monges eremitas, que peregrinavam em busca da purificação e do contato com Deus.