O romance Essa Terra dramatiza o conflito entre as expectativas positivas em relação ao progresso e o modo como ele se impõe com violência gerando crises agudas, sofrimento, loucura e morte. O desfecho da trajetória de Nelo, personagem que depois de vinte anos vivendo em São Paulo retorna à terra natal e se suicida, suscita uma série de indagações acerca do sentido do processo social do qual a migração é momento. Neste artigo propomos uma análise da configuração trágica do romance tendo em vista a complexidade da experiência que ele formaliza e os vínculos dessa experiência com um processo mais geral de imposição das relações sociais capitalistas, considerando a particularidade dessa imposição no contexto da formação nacional brasileira. O infortúnio dos personagens e os conflitos que eles vivenciam tanto externa quanto internamente configuram uma experiência que podemos reconhecer como trágica à medida que recompomos os vínculos entre a dimensão pessoal e social da experiência. Destacamos, em especial, a presença da culpa para examinar como o romance dramatiza a formação do sujeito moderno, ao mesmo tempo dotado e destituído de autonomia, aspecto que nos parece decisivo para apreender a experiência trágica que nos é contemporânea.
The novel The Land by Antônio Torres dramatizes the conflict between the positive expectations of progress and the way it imposes itself through violence, causing crisis, suffering, insanity and death. The outcome of Nelo’s life trajectory as he moves back to his birthplace after spending 20 years in São Paulo and commits suicide raises a set of issues about the meanings of the social process in which migration takes part. In this article we propose an analysis of the tragic configuration of the novel by taking into account both the complexity of the experience that it shapes and its ties to a broader process of imposition of capitalist social relations, considering its particularity within the context of the national formation of Brazil. The misfortune of the characters and the conflicts that they live, externally as well as internally, shape an experience we can acknowledge as tragic as we re-establish the links between the personal and the social dimensions from the experience. We mainly highlight the presence of guilt in order to investigate the way in which this novel dramatizes the constitution of the modern subject, simultaneously endowed with and deprived of autonomy, a decisive aspect to grasp our contemporary tragic experience.