A produção de cerveja artesanal em casa - ou homebrew - tem se difundido internacionalmente e no Brasil, em boa medida como resposta inovadora de um produtor-consumidor mais qualitativo que desafia a massificação imposta pela indústria de cervejas. A proposta deste artigo é, centralmente, inquirir sobre que tipos de interesses movem o curso de ação na produção de cervejas artesanais caseiras, mediante a investigação do que ocorre na cidade de Feliz, no estado do Rio Grande do Sul. A cidade chama a atenção não apenas por apresentar um longo histórico de produção de cerveja, artesanal e industrial, mas também por registrar a expansão recente do número de cervejeiros caseiros e de suas atividades. O argumento a ser sustentado na análise, com base na experiência de uma amostra de cervejeiros caseiros de Feliz, é de que esses produtores tendem a aprender a fazer cerveja sem um necessário intuito econômico-mercantil prévio, em razão de que se movem pela busca do que consideram qualidade do produto para consumo doméstico. Quando ingressam na fase de produção comercial e se inscrevem na racionalidade mercantil, tendem a combinar interesses materiais e ideais. Parte-se do pressuposto compreensivo de que a ação socioeconômica seria movida por complexas combinações e “pesos” entre interesses materiais e ideais, orientando-se para a geração de utilidades e para expectativas em relação a outros agentes. Isso pode desencadear certa contestação sociocultural às atividades econômicas que repercute nos mercados, mediante a diversificação de produtos e absorção de novos códigos de “qualidade”.