Em 1888 foi abolida a escravidão no Brasil. A década da abolição, no extremo sul da Bahia, foi acompanhada de conflitos e tensões envolvendo senhores, escravos, abolicionistas e autoridades provinciais. A este cenário se somou a presença de uma multidão de trabalhadores para a construção da estrada de ferro Bahia-Minas, oriundos de várias regiões. Os operários que construíam a ferrovia protagonizaram uma série de protestos, motins e reivindicações ao longo da década, contribuindo para o “clima de instabilidade” que marcou as lutas em torno da escravidão e da liberdade na região. Em 1888, depois da aprovação da lei de 13 de maio, após um protesto armado, uma turma de trabalhadores portugueses engajados nas obras da estrada de ferro foi presa no tronco e permaneceu durante meses na prisão. Este artigo, através da documentação policial e judicial, analisa este episódio e discute as reminiscências escravistas nas relações de trabalho na ferrovia no período imediato à abolição.
In 1888, slavery was abolished in Brazil. The emancipation decade, in the far South of Bahia, was accompanied by conflicts and tensions involving masters, slaves, abolitionists, and provincial officials. Adding to this setting was the presence of a multitude of workers from several places in for the building of the Bahia-Minas railway. These workers put forth a host of protests, mutinies, and claims along the decade, contributing to the “atmosphere of unrest” which marked the struggles around slavery and freedom in the region. In 1888, after the May 13 th emancipation law was approved, a crew of Portuguese construction workers were tied to trunks as a punishment for an armed protest, and were kept in prison for months. This paper analyses this episode and discusses slavery reminiscences in labor relations in the railway construction just after emancipation, drawing upon police and judicial documents.