O pronome você na variedade europeia do português tem um comportamento discursivo muito complexo. Este facto faz com que os diferentes autores que se dedicaram a analisar os usos deste pronome não concordem com o seu valor real e atual. Embora o Português Brasileiro tenha especializado você como pronome familiar, substituindo em ocasiões tu, o caso europeu apresenta contextos de uso de você aparentemente contraditórios: tratamento informal, tratamento formal e, até um determinado ponto, tratamento pejorativo. Este trabalho pretende refletir sobre o uso de você em Português Europeu, sobre uma perspetiva diacrónica e à luz da pragmática da cortesia. Para tal, extraÃmos dados de três diversos corpora que revelam o uso real de você ao longo do século XX, já que é a partir do XIX que você se especializa, em princÃpio, para a informalidade. Os resultados mostram um uso pouco expressivo deste pronome de tratamento e uma certa polivalência do mesmo, como efeito da paulatina marginalização que tem experimentado desde há mais de cem anos.
The pronoun você in European Portuguese has a very complex discursive behaviour. This fact has made different authors that analyzed the usage of this pronoun to disagree on its real and current value. Although the Brazilian Portuguese has specialized você as an informal pronoun, occasionally replacing tu, the European case presents contexts of usage of você that are apparently contradictory: informal address, formal address and to a certain extent pejorative address. This works aims to reflect on the usage of this pronoun in European Portuguese, from a diachronic perspective and in the light of the politeness principles. In order to do that we have obtained data from three different corpora that replicate the real usage of você throughout the 20th century, since it is from the 19th century that você, in principle, starts specializing as an informal pronoun. The results show an inexpressive usage of this politeness form and a certain polyvalence of it, as the effect of a gradual marginalisation that it has experienced for over one hundred years.