O exemplo da quadratura do cÃrculo, proposta por
Antifonte, que encontramos no primeiro capÃtulo da FÃsica de
Aristóteles, traz, nele mesmo, uma série de complexidades. Inicialmente
porque ele está inserido numa passagem tradicionalmente consagrada
ao tratamento da questão do devir. Em seguida, porque sua função, Ã
primeira vista, parece completamente desprovida de propósito. O
exemplo é bastante semelhante ao que aparece nas Refutações SofÃsticas
e, esse destaque, demonstra não haver qualquer espécie de inediticidade
no mesmo. Entretanto, essa “coincidência†marca a necessidade latente,
para a qual desperta Aristóteles, de evidenciar a existência de formas
distintas de racionalidade. Cada uma delas possui o seu respectivo
âmbito de atuação e o seu método de investigação. Uma delas, de
competência do “cientista geralâ€, está alicerçada sob a égide de
“princÃpios comunsâ€, enquanto a outra, sob a competência dos
“cientistas particularesâ€, possui “princÃpios especÃficos†devidamente
relacionados com o seu objeto e campo de atuação. Dessa dicotomia
resulta o motivo pelo qual o geômetra fica impossibilitado de refutar
a teoria da quadratura proposta por Antifonte, e, por conseguinte,
compreende-se a inserção do intrigante exemplo naquele trecho da
FÃsica. O presente texto visa, portanto, analisar alguns fragmentos da
obra aristotélica, com o intuito de agregar idéias capazes de sustentar
o argumento de que Aristóteles precisava mostrar as peculiaridades
atinentes a cada um dos tipos de racionalidade para salientar os aspectos
relativos à (s) ciência(s) particular(es), para a qual(is) importa(m) a questão
do devir, que é o objeto de tratamento especÃfico do Livro I da FÃsica.