O artigo faz o ponto da situação do debate teórico-crítico em torno da questão do microconto como mutação do conto. Articulando o diálogo entre três perspetivas diferentes (Lagmanovitch, Zavala, Roas) sobre esta questão, analisamos o jogo de forças e de interferências recíprocas entre as propriedades constituintes do microconto: brevidade, narratividade e intertextualidade, com base em microcontos em espanhol e em francês. Inserindo o referido debate no âmbito da narratologia e das suas tendências recentes (abertas pelo cognitivismo, teoria dos mundos possíveis e cultural turning), examinamos as conceções de narratividade e de intertextualidade que nele estão em jogo e de que modo elas contribuem para a definição e caracterização da relação de derivação, contínua ou descontínua, que liga o microconto ao conto. Constatando o pouco peso que tem a teoria da ficção no estudo do microconto, introduzimos no debate o conceito de transficcionalidade que desloca a análise da relação entre as duas formas narrativas para o plano do conteúdo diegético. Descrevemos o modus operandi das figuras transficcionais em vários microcontos que podem assim ser definidos como transficções de contos e concluímos com a noção de espaço transficcional e suas vantagens em relação à de género.