A QUESTÃO DA MÁ-FÉ NO GÓRGIAS DE PLATÃO

Revista Primordium

Endereço:
Av. João Naves de Ávila , nº 2121, Bloco 1U132, Bairro Santa Mônica
Uberlândia / MG
38400-902
Site: http://www.seer.ufu.br/index.php/primordium/index
Telefone: (34) 3239-4252
ISSN: 25262106
Editor Chefe: Marcos César Seneda
Início Publicação: 31/01/2016
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: Filosofia

A QUESTÃO DA MÁ-FÉ NO GÓRGIAS DE PLATÃO

Ano: 2016 | Volume: 1 | Número: 1
Autores: Marcelo Rosa Vieira
Autor Correspondente: Marcelo Rosa Vieira | [email protected]

Palavras-chave: Má-fé. Bem. Sócrates. Cálicles. Sartre.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

 O presente artigo visa considerar a questão da má-fé no Górgias de Platão a partir da acepção ética de “negação da própria liberdade” que Sartre empresta ao termo no ensaio O ser e o nada. O conceito de má-fé aparece no diálogo por ocasião da discussão entre Sócrates e Cálicles, quando o jovem sofista acusa o filósofo de usar argumentos capciosos para enganar Górgias e Polo. Ver-se-á ao longo do texto, porém, que é Cálicles quem na verdade recorre ao uso da má-fé, ao introduzir a ideia de um determinismo natural para justificar seu hedonismo e negar a autonomia de escolha do homem. Propõe-se então a tese de que a má-fé decorre necessariamente do caráter anfibológico da retórica, pois desde que o orador imiscui interesses de caráter pessoal na sua argumentação, vê-se obrigado a adaptar seu discurso a tais interesses, sem preocupar-se com a elucidação correta das questões. A dialética socrática, por sua vez, pode furtar-se às contradições da má-fé na medida em que assume o caráter de investigação lógica desinteressada, comprometida apenas com o conhecimento exato da verdade. O presente artigo visa considerar a questão da má-fé no Górgias de Platão a partir da acepção ética de “negação da própria liberdade” que Sartre empresta ao termo no ensaio O ser e o nada. O conceito de má-fé aparece no diálogo por ocasião da discussão entre Sócrates e Cálicles, quando o jovem sofista acusa o filósofo de usar argumentos capciosos para enganar Górgias e Polo. Ver-se-á ao longo do texto, porém, que é Cálicles quem na verdade recorre ao uso da má-fé, ao introduzir a ideia de um determinismo natural para justificar seu hedonismo e negar a autonomia de escolha do homem. Propõe-se então a tese de que a má-fé decorre necessariamente do caráter anfibológico da retórica, pois desde que o orador imiscui interesses de caráter pessoal na sua argumentação, vê-se obrigado a adaptar seu discurso a tais interesses, sem preocupar-se com a elucidação correta das questões. A dialética socrática, por sua vez, pode furtar-se às contradições da má-fé na medida em que assume o caráter de investigação lógica desinteressada, comprometida apenas com o conhecimento exato da verdade.



Resumo Inglês:

This present article aims to consider the issue of bad faith in the Plato’s Gorgias in relation to the ethic meaning of “own freedom’s deny” that Sartre bestows to the term at his essay Being and nothingness. The conception of bad faith appears in the dialogue at the occasion of discussion between Socrates and Calicles, as the young sophist accuses the philosopher of being using captious arguments to deceive Gorgias and Polo. It shall be seen along the text, however, that it’s actually Calicles whom happens to have recourse to bad faith as he introduces the idea of natural determinism to justify his hedonism and deny the choice’s autonomy of men. It’s proposed then the thesis that the bad faith proceeds necessarily from the amphibological rhetoric’s character, that once the orator interferes personal concerns at his argumentation, he sees himself obligated to adapt his speech to such concerns, and no attempt to make the correct elucidation of matters. The socratical dialectic, on the other hand, can get the contradictions out, as long as it assumes a character of logical and disinterested research, compromised only with the exact knowledge of truth.