Este artigo aborda a problemática da solidão afetiva de duas mulheres negras sem parceiros fixos na Bahia. Parto do princípio que gênero e raça são marcadores sociais relevantes nas preferências sexuais-afetivas de homens e mulheres de um mesmo ‘grupo’ racial e de ‘grupos’ raciais distintos. Observo que as escolhas afetivas de alguns homens negros e brancos por parceiras não- negras são orientadas pelos seguintes fatores: a racialização opera com referentes que denotam signos corporais como a cor, a estética de mulheres negras e brancas; do mesmo modo, as tensões de gênero são traduzidas em expectativas de masculinidade e paternidade/ poligamia; o enpoderamento destas mulheres negras como chefes de família, detentoras de um capital econômico-social e de prestígio político impediram a estabilidade afetiva de tais relações. Através da análise das duas trajetórias, constatei que a solidão dessas mulheres negras confirma boa parte das pesquisas demográficas que indicam fatores mais complexos como os de ordem social, cultural e simbólico, responsáveis pelo seu isolamento afetivo.