Escrito com a tinta fresca da história imediata, o premiado livro de Roberto Camargos, aqui apresentado, interpela, de forma dura, nua e crua, o presente e o passado recente do Brasil num momento marcado, mundo afora, pela escalada do capitalismo neoliberal. A carne viva da qual ele se alimenta é o rap de diferentes cantos e quebradas destes muitas vezes tristes trópicos, com todo o seu cortejo de desgraças reservadas a parcelas significativas dos moradores das periferias. Palavras escarradas pelos rappers, carregadas de esporro, são expressões de quem escreve, por assim dizer, o lado B da história. Não é à toa que, ao dar passagem a uma constelação de vozes dissonantes, o rap é frequentemente olhado com desdém, como uma espécie de filho bastardo da arte. É o preço pago pelo incômodo que ele causa à ordem social e aos arraigados hábitos sonoros estabelecidos.
Written with the fresh paint of immediate history, the Roberto Camargos’ awardwinning book we present here challenges quite harshly the Brazilian present and past in a time of a global escalation of neoliberal capitalism. The raw flesh on which he feeds it rap from different corners and poor neighborhoods of this often sad tropics, with all the suite of disgraces it holds in store for a significant portion of those living in poor outskirts of our big cities. The words spitted out by rappers, marked by ranting, are expressions of those who write the, so to say, B-side of history. No wonder that, as it welcomes a whole constellation of dissonant voices, rap is often looked down at, as a kind of art’s bastard child. This is the price to pay for the uneasiness it causes to social order and deep-rooted, established sound habits.