Na esteira do pensar filosófico provindo do século XX que questiona a essência e insistência da Metafísica enquanto constituição da mentalidade ocidental, está o paulista Vicente Ferreira da Silva, cuja obra, embora o reflexo impactante e luminoso inicial, não demorou a se ocultar do âmbito acadêmico-científico. Mais do que um necessário resgate do pensamento de Vicente intenta este artigo, pois compreende que os temas discutidos e investigados pelo filósofo prosseguem atuais, a começar pela encruzilhada posta a que a humanidade caminhe ainda e junto à inautenticidade niilista, que privilegia a condição negativa da subjetividade e o controle dos fenômenos da Natureza a partir da técnica, ou retorne ao caminhar mítico, à abertura fundante da clareira do Ser. Isso se dá a partir da poesia, ou do nomear poético projetado pelos deuses que funda a verdade de um povo histórico, e lhe destina uma essência, enquanto doação meta-histórica que fundamenta os acontecimentos da história humana. A poesia é, dessa forma, fundação de um mundo, verdade esta que Vicente, até seu precoce falecimento, não deixou de vislumbrar e ter como guia em seu caminhar.