O artigo se propõe a discutir as diferentes formas de mal uso de recursos públicos ligados ao programa de construção de cisternas P1MC. Se tal programa é responsável por uma transformação material radical na vida da população mais pobre da região, seus efeitos sobre as estruturas
tradicionais de dominação não são claros. A questão principal que orienta este trabalho é: transformadas as condições materiais, como evolui a dependência em um contexto marcado pela dominação de uma elite que utiliza a pobreza como meio de reprodução? Se a restrição hídrica continua a servir os interesses de uma elite local para se manter no poder, pode-se falar em clientelismo no caso do P1MC? Para responder tais questões, o artigo baseia-se em pesquisa de campo realizada em oito municípios de Pernambuco e Bahia, combinando entrevistas institucionais e visitas a domicílios rurais. Em uma perspectiva histórica, e através da análise das entrevistas realizadas, o artigo demonstra como o P1MC não promove o fim de práticas clientelistas , mas em conjunto com outras políticas existentes, contribui para uma mudança radical na situação dos mais pobres, não só material, mas também em relação aos patrões e demais atores que controlam o acesso a recursos públicos no Nordeste.