INTRODUÇÃO: A fibrose cística (FC) afeta as glândulas exócrinas de múltiplos órgãos, e as aéreas superiores são geralmente acometidas devido a anormalidades no clearence mucociliar. A opacidade de seios paranasais ocorre em 90-100% dos pacientes e a polipose nasal em 10-32%. A pseudomucocele é um distúrbio raro, caracterizado por coleção de secreção viscosa no interior dos seios paranasais. Não é uma lesão cística com paredes epiteliais verdadeiras, mas é delimitada por uma cápsula de tecido inflamatório que acompanha o formato das paredes dos seios, sendo o maxilar o mais acometido. Atualmente, a maior frequência de tomografias de seios da face, aumentou a detecção desses casos. O quadro clínico característico é de obstrução nasal severa, alterações do sono, retardo do crescimento e agravamento pulmonar. Relatamos o caso de um paciente com FC e pseudomucocele bilateral.
DESCRIÇÃO: Paciente G.A.S., 7 anos, masculino, acompanhado por FC e insuficiência pancreática desde 1 ano com colonização crônica por Pseudomonas aeruginosa desde os 2 anos. Em março de 2022, foi observada proptose do olho direito e edema de pálpebra superior, além do relato de piora da obstrução nasal e do ronco habitual nos últimos meses. A oftalmologia afastou alterações de fundo de olho, de motricidade ocular extrínseca ou acuidade visual. A tomografia computadorizada de crânio e órbita mostrou conteúdo com densidade de partes moles e áreas hiperdensas de permeio, ocupando todos os seios paranasais e cavidade nasal. Afilamento da parede medial e expansão da lâmina orbitária à direita, com redução da fissura orbitária inferior deste lado. Tais achados determinaram alargamento e obstrução do complexo ostiomeatal, bem como proptose à direita. Com a hipótese diagnóstica de pseudomucocele maxilar/etmoidal a Otorrinolaringologia (ORL) procedeu à sinusotomia bilateral. O paciente apresentou rápida melhora do edema ocular e da proptose, dos sintomas de obstrução nasal e dos roncos noturnos.
DISCUSSÃO E COMENTÁRIOS FINAIS: O acompanhamento com a ORL é indicado em todos os pacientes com FC devido à alta prevalência de doença nasossinusal. A consulta clínica deve sempre atentar para modificação e/ou agravamento do quadro de vias aéreas superiores. Os métodos de imagem auxiliam o especialista no diagnóstico e tratamento preciso dessas afecções. Neste caso, o deslocamento do globo ocular por acometimento da órbita foi o sinal de alerta. Apesar de rara, a Pseudomucocele pode agravar o quadro respiratório geral e, eventualmente, pelo aumento do volume, deslocar e destruir o osso circundante com complicações locais, orbitárias ou mesmo intracranianas. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, a depender da gravidade. Apesar da natureza benigna das mucoceles, a sua expansão pode causar complicações intracranianas e orbitárias graves, principalmente quando existe infecção. O conhecimento desta manifestação pode auxiliar o clínico quanto à suspeita e orientar o devido encaminhamento do paciente.