O cineasta alemão Harun Farocki desenvolveu, ao longo de sua filmografia, uma série de investigações pujantes sobre as imagens técnicas e seus efeitos sobre a vida humana. Ao trabalhar com materiais heterogêneos, provenientes dos mais diversos suportes midiáticos, ele desenvolve reflexões fundamentais que podem ser colocadas ao lado dos principais pensadores da mídia e da técnica no século XX, como Friedrich Kittler e Jonathan Crary, e das tecnologias de controle, como Michel Foucault. Voltando-se predominantemente para os condicionamentos e as interseções das tecnologias midiáticas, Farocki elabora um pensamento ímpar no qual elementos ou contextos específicos são reconectados, por meio da montagem cinematográfica, aos circuitos mais amplos que os envolvem. Um pensamento assim constituído permite que as imagens, juntamente às mídias que as promovem, sejam continuamente desmontadas e remontadas, a fim de alcançar uma compreensão mais ampla sobre os seus mecanismos em contextos variados. Neste artigo, partimos da análise de dois filmes do cineasta, A saída dos operários da fábrica (1995) e Videogramas de uma revolução (1992), para demonstrar como esse gesto de remontagem ocorre.
Using a diversity of materials, German filmmaker Harun Farocki made a series of vigorous investigations about technical images and their effects on human life. We can place his thoughts among leading 20th-century media and technique philosophers such as Friedrich Kittler and Jonathan Crary, and control technologies philosophers such as Michel Foucault. Focusing on the normative effects and intersections of media technologies, the artist creates unique films in which specific cultural elements or contexts connect through montage to the wider circuits that surround them. In fact, such a process of cinematic thinking allows him to continually compose and recompose images and the media in order to achieve a broader understanding of their mechanisms. This article analyzes the films Workers exiting the factory (1995) and Videograms of a revolution (1992) in order to understand better Farocki’s visual thinking.