Há mais de um século a região do Seridó Potiguar produz artesanalmente diversos
derivados do leite, merecendo destaque os queijos do tipo coalho e de manteiga,
doces, nata, coalhada, manteiga fundida, biscoitos, bolachas, dentre outras
iguarias da culinária regional. Não obstante os problemas que o setor tem
atravessado, a exemplo das dificuldades relacionadas ao mercado, às questões
sanitárias e de ordem financeira, a atividade se constitui numa importante
estratégia de reprodução camponesa no espaço semiâ€Ã¡rido potiguar,
especialmente para uma parte das famÃlias rurais seridoenses. A região dispõe de
mais de 300 unidades artesanais de laticÃnios, denominadas queijeiras, e emprega
direta ou indiretamente aproximadamente 2000 pessoas. Dessas unidades,
algumas existem há mais de cem anos, com contigüidade a partir das atuações de
três gerações de uma mesma famÃlia camponesa. A pecuária leiteira e, por
conseguinte, a produção artesanal dos derivados do leite, bem como os próprios
subprodutos lácteos gerados, já fazem parte das representações simbólicas e
culturais seridoenses, pois constitui em boa medida os hábitos, valores e
costumes alimentares da população dessa região, mesmo que esta não resida
neste espaço atualmente. Além de empregar mais mãoâ€deâ€obra que outras
atividades econômicas importantes da região, como por exemplo, a indústria
cerâmica, a mesma não depreda tanto os recursos naturais regionais, que já são
escassos, a exemplo da lenha e outros. A atividade também serve sobremaneira
para fixar o homem no campo, além de contribuir com a preservação da cultura
local. Nesse contexto, o presente trabalho visa a discutir a importância do setor
artesanal de laticÃnios para as famÃlias rurais seridoenses, observando sua relação
com a cultura local e regional, bem como seus avanços e dificuldades num mundo
marcado pela competitividade dos mercados, acirrada com o atual processo de
globalização. Trataâ€se de uma análise bibliográfica, mas também documental e
empÃrica, a partir da realização de entrevistas e observações junto aos atores
envolvidos com a pesquisa, como queijeiros, criadores de gado, atravessadores
etc.