Resta uração, reinvenção e recordação: recuperando identidades sob a escravização na África e face à escravidão no Brasil

Revista de História

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ISSN: 0034-8309
Editor Chefe: Eduardo Natalino dos Santos
Início Publicação: 31/12/1961
Periodicidade: Semestral
Área de Estudo: História

Resta uração, reinvenção e recordação: recuperando identidades sob a escravização na África e face à escravidão no Brasil

Ano: 2011 | Volume: 0 | Número: 164
Autores: Joseph C. Miller
Autor Correspondente: Joseph C. Miller | [email protected]

Palavras-chave: Identidades africanas, América portuguesa/Brasil, comunidades escravas, séculos XVII ao XIX.

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

O artigo propõe uma leitura criativa e “especulativa” das experiências dos africanos que,
por sua escravização, conectaram a África à América, e a América à África durante a época
do comércio de escravos. Dialogando com a historiografia da escravidão nas Américas,
com especial atenção para os historiadores brasileiros, a discussão focaliza a elaboração e
invenção de identidades para além da polarização simplista do debate entre os partidários dos
“africanismos” e os defensores da “crioulização”. Tentando compreender a escravidão nos
termos em que esta era pensada pelos próprios africanos e seus descendentes e mais como
um processo histórico do que uma “instituição” abstrata, Miller mostra que a busca por laços
sociais e constituição de novas comunidades eram os meios capazes de neutralizar a dispersão,
a violência e o isolamento da escravização. Em outras palavras, eles re-estabeleceram os
sentimentos de pertencimento e de segurança pessoal mínimos. Das confrarias religiosas e
das comunidades de refugiados, às maltas de capoeira, aos reinados congos e às associações
de ajuda mútua, dos anos formativos (séculos XVI ao XVII) da sociedade luso-brasileira,
passando pelo século XVIII e chegando ao Brasil independente, o artigo acompanha processos
complexos de constituição de conexões que, segundo Miller, só podem ser lidos numa
perspectiva histórica pautada pela compreensão do tema em diferentes contextos e momentos
da sociedade escravista e em suas articulações com uma África de muitos significados.



Resumo Inglês:

The article proposes a creative, and "speculative" reading of the experiences of Africans who,
by their enslavement, connected Africa to America, and America to Africa, during the Atlantic
slave trade. Engaging the historiography of slavery in the Americas, with particular attention
to historians of Brazil, the discussion focuses on the elaboration and invention of identities
within slavery in the Americas beyond the simplistic and polarized contrast debated between
supporters of “africanismos” and proponents of "crioulização". Trying to understand slavery
as it was conceived by Africans themselves and their descendants and as a historical process
rather than an abstract “institution”, Miller shows that the enslaved searched for social ties
and built new communities as means of neutralizing the dispersion, violence and isolation of
their enslavement. In other words, they re-established many senses of belonging and personal
security. From religious confraternities and refugee communities, to capoeira maltas , congos
“kings”, and mutual aid associations, from the formative years of Brazilian society (16th to
17 th centuries), on through the 18 th century, and into politically independent 19 th-century
Brazil, this article proposes complex processes of forming connections that, according to
Miller, can be read only through a historical perspective and by understanding themes in different
contexts and moments of the slave society and in their multiple connections with Africa.