Com base na noção de Ceará-da-seca, este artigo descreve o surgimento e a consolidação, desde 1877, de um poder soberano sobre a vida implementado por meio de políticas populacionais destinadas a administrar os efeitos sociais da seca na região. Assim, observam-se práticas biopolíticas de governo que caracterizam a institucionalização do Estado moderno atrelada aos dispositivos de exceção (os abarracamentos, os lazaretos, os campos de concentração e as frentes de trabalho), direcionados à proteção de uma forma de vida (urbana e industrial) a ser garantida diante da cíclica invasão dos retirantes do sertão, levando ao litoral, a cada grande seca, o abrupto espetáculo da barbárie da fome, da miséria, da peste.
Based on the notion of ‘Ceará-da-seca,’ this article describes the emergence and consolidation, since 1877, of a sovereign power over life deployed through population policies aimed to manage the social effects of drought in the region. Thus, there are biopolitical government practices that characterize the modern State institutionalization as tied to exception devices (tent buildings, lazarettos, concentration camps, and work fronts), designed to protect a (urban and industrial) way of life so that it is guaranteed in face of the cyclical invasion of retreating migrants from the ‘sertão,’ taking to the coast, during each severe drought event, the abrupt spectacle of the barbarism of hunger, misery, plague.