Partindo da filosofia de G. W. F. Hegel, nomeadamente de sua ideia sobre a modernidade enquanto tempo de separações, bem como de seus escritos acerca da arte e da tragédia — sobretudo no que concerne à figura de Antígona —, este artigo investiga as operações cinematográficas empreendidas pelo diretor persa Asghar Farhadi no filme A separação (2011), vencedor do Oscar e de três prêmios no Festival de Berlim. Entende-se, para tanto, a obra não em continuidade com um cinema metarrealista e autorreflexivo característico do Irã nos anos 1990, mas antes em ruptura, como um retorno contemporâneo ao trágico. Esse regresso, em vez de simplesmente obedecer aos esquemas narrativos herdados da Grécia, insere-se no terreno de uma arte construída por distâncias e intervalos inaugurados por enquadramento e montagem. Nessa lógica, para além de seu referente imediato, um conflito judicial entre marido e esposa, a “separação” do título se universaliza, dizendo também respeito a processos entre indivíduo e Estado, vida e morte, diferenças de gênero e de classe ou, em última instância, à dialética fundadora do audiovisual, entre o audível e o visível.