Na historiografia produzida sobre a História Cultural ele é um de seus maiores expoentes. Nas últimas duas ou três décadas, qualquer pessoa que tenha se graduado em História, ou se motivado a compreender a história da cultura, certamente conhece o nosso entrevistado. Seu nome acabou se tornando um sinônimo de rigor e versatilidade. O professor emérito da Universidade de Cambridge, Inglaterra, Peter Burke, interrompeu gentilmente sua rotina no Reino Unido para conversar conosco sobre o impacto que o tema desse Dossiê traz à contemporaneidade. Passeou por temas complexos que ajudam a compreender o papel do historiador do presente diante dos domínios do patrimônio cultural e das relações internacionais. O historiador que ajudou a popularizar a história da cultura entre os pares, é hoje, um dos intelectuais estrangeiros mais conhecidos no Brasil e nos países de língua portuguesa, em função de sua produção editorial, quase toda traduzida para o português. Especialista em várias frentes, que vão desde o Renascimento e as Monarquias Absolutas, até a história das ideias e da Cultura, pendula entre a história moderna europeia e a compreensão do tempo presente, aliando boa verve e argúcia. Burke aceitou o desafio de discutir um tema no qual afirma ser apenas um “observador curioso”. Sua produção historiográfica permanece como uma relevante contribuição, capaz de lidar com amplos e diversificados interesses. Historiador que interroga seu tempo, sem jamais perder o lastro histórico que o consagrou, Burke foi generoso e comedido, perfil próprio dos grandes intelectuais. Na altivez dos seus 83 anos, continua ativo, sobretudo nesse período de quarentena, em que nos confidenciou ter mais tempo para escrever e pesquisar. Entre rápidos passeios no parque vizinho à sua casa e as intermináveis horas à frente de livros, anotações e de seu computador, encontrou tempo para registrar uma série de impressões autorais. Esta entrevista sintetiza tópicos gerais discutidos ao longo deste dossiê e, embora, nosso entrevistado advirta ser esta uma narrativa de um não especialista, a precisão de suas observações nos ajuda a entender questões subjacentes às entrelinhas do patrimônio cultural em tempos de transição. Diante desta nova era, frente às incógnitas de um tempo em pandemia, perguntas e respostas, muitas vezes se confundem numa dada narrativa comum. Como será o futuro da preservação do patrimônio em âmbito internacional? Como buscar a compreensão diante desse frenesi estroboscópico que virou o tempo presente? Perguntas como essas, subjacentes às realizadas nesta entrevista motivaram Peter Burke a elaborar possíveis sinalizações. O resultado dessa conversa o leitor tem agora em mãos.