Pesquisando a obra do filósofo ateniense Platão, não podemos negar a forte influência pitagórica que perpassa por quase todos os seus diálogos. As especulações sobre a ideia do corpo como prisão da alma, a teoria da reminiscência e os mitos escatológicos são pontos que traduzem de forma convincente a tradição pitagórica e órfica dos seus escritos. Não destacaremos neste trabalho a importância que Platão dá à ciência dos números de origem pitagórica como visto no Epinomis – extensão de As Leis – quando o filósofo afirma que, sem o número, a raça humana jamais conquistaria a sabedoria. Abordaremos apenas a influência religiosa dos poemas órficos e do pitagorismo, comum nos ritos populares, que são absorvidos, utilizados e modificados nos textos platônicos, tanto que Alberto Bernabé diz ser Platão a principal fonte que possuímos, da época clássica, para o conhecimento do orfismo. Cotejamos essa influência órfico-pitagórica encontrada em outros diálogos como a Apologia, o Górgias, o Fédon, o Fedro e outros, mas delimitaremos como foco o diálogo tido como apócrifo Axíoco, cujo tema central está direcionado à imortalidade da alma e aos benefícios dos ‘iniciados’ que possuem privilégios para suas almas após a morte do corpo, temas recorrentes dos conhecimentos culturais órficos-pitagóricos. Não trataremos essa influência em toda sua extensão, mas apresentamos o suficiente para compreendermos que os conselhos que Sócrates interpõe a Axíoco, reportando-se, sobretudo ao comportamento e gênero de vida do homem, podem modificar o destino da alma separada do corpo pela morte.