Abrangendo a cidade de Porto Feliz do século XIX, o trabalho analisa
fragmentos da trajetória de vida do carpinteiro crioulo Samuel da Rocha, que passou
mais de 25 anos em cativeiro. Mudou de senhor, ganhou a alforria e senhoreou um
escravo, a quem também deu liberdade. Sem filhos, ele também foi filho, irmão,
compadre, padrinho, esposo, isto é, envolvia-se em uma complexa rede parental,
aspecto crucial para sua inserção social. Em testamento, deixou legados às irmandades
de São Benedito e Nossa Senhora da Boa Morte, à Igreja de Nossa Senhora Mãe dos
Homens, etc. Portanto, demonstra-se que nem sempre as clivagens entre escravidão
e liberdade e a abordagem das devoções religiosas congeladas pela cor ou status
jurÃdico contemplam as experiências sociais de indivÃduos e grupos. Desse modo,
analisar uma trajetória de vida propicia a percepção da fluidez das identidades sociais
de indivÃduos. Outrossim, abordar a amplitude das relações sociais do carpinteiro
ajuda a compreender os mecanismos de exploração do trabalho, nos quais Samuel
da Rocha atuou nas duas partes.
Covering the city of Porto Feliz in the 19th Century, this work analyzes
fragments of life trajectory of crioulo carpenter called Samuel da Rocha, who spent
more than 25 years in captivity. He changed his master, obtained his manumission
and kept one slave, who was also given freedom. Without children, he was also
son, brother, compadre, godfather, husband, that’s to say, he was involved in a
complex network parental, crucial for his social inclusion. Therefore, this article
shows that not always cleavage between slavery and freedom takes into account social experiences of individuals and groups. Thus, by analyzing a life trajectory it’s
possible to understand the fluidity of individuals’ social identities, as well as to
help to understand the aparatus for the exploitation of slave labor, in which Samuel
da Rocha was present in both sides.