Os estudos da tradução estiveram, por muito tempo, umbilicalmente ligados ao campo dos estudos linguísticos. Nessa relação, na qual se privilegia o signo linguístico como o mais importante dentre todos os outros e se objetiva as transferências de significados entre línguas naturais, percebe-se uma limitação teórica que torna muito difícil lidar com o processo tradutório em meio a contextos sígnicos mais amplos - especialmente se considerarmos a complexificação e o intrincamento dos sistemas simbólicos ocorridos nas duas últimas décadas, promovido não só pela globalização econômica e social, mas principalmente pelos avanços tecnológicos e da inteligência artificial. O objetivo deste artigo é dar início a uma discussão renovada sobre o processo de tradução, baseada em seu encontro com a semiótica de Yuri Lotman, iluminada pela interpretação peirceana da biossemiótica de Jesper Hoffmeyer e dos expoentes da Escola de Tartu, Kotov e Kull.
Translation studies were, for a long time, inextricably linked to the field of linguistic studies. In this relationship, the linguistic sign is privileged as the most significant among all others and its ultimate goal has been the transfer of meanings between natural languages. Consequently, one may see a theoretical limitation that makes it very difficult to deal with the translation process in broader contexts - especially considering the complexity and entanglement of symbolic systems promoted not only by the economic and social globalization, but mainly by technological advances and artificial intelligence of the last two or three decades. The aim of this paper is to renew the discussion about the translation process itself from a semiotic point of view, taking advantage of some aspects of Yuri Lotman's semiotics illuminated by a Peircean interpretation of Jesper Hoffmeyer’s biosemiotics, as well as by the contributions of Kotov and Kull, two of the most prominent exponents of the Tartu School of Semiotics.