Em Rear Window (1954), uma das obras-primas de Alfred Hitchcock, L.B. Jefferies (James Stewart), fotógrafo de guerra, preso a uma cadeira, praticamente desvalido, resolve um crime através da observação atenta e prolongada do que o rodeia. Em Blow-Up (1966), a provocativa adaptação de um conto de Julio Cortázar que filmara Michelangelo Antonioni, Thomas (David Hemmings), frenético fotógrafo de moda, fechado num quarto escuro, acredita revelar outro através da exploração obsessiva das suas imagens. Quietos ou inquietos, heróicos ou delirantes, as personagens que o cinema propõe muitas vezes encarnam as aventuras do olhar, e ao fazê-lo nos submetem a uma prova, na qual o que está em jogo é a nossa capacidade para interrogar as evidências do que é e descobrir o que não é – pelo menos imediatamente – visÃvel