Transexuais e travestis são apontadas como um dos grupos que mais sofrem com o preconceito por subverterem a heterossexualidade compulsória, como também os padrões de masculinidade e feminilidade vigentes. Entre as violências enfrentadas estão a falta de acesso aos serviços de saúde e atendimentos inadequados decorrentes do preconceito dos profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde, apesar da saúde integral, equânime e com garantia de acesso a todos os níveis de atenção ser um direito garantido a todos os cidadãos em Constituição Federal desde 1990. Outras políticas transversais, como a Política Nacional de Humanização de 2003 e a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais de 2010, apesar de terem por objetivo qualificar o atendimento em saúde – e, no segundo caso, especifi camente à população LGBT – ainda há disparidade no atendimento para determinados grupos que se encontram em situação de desigualdade. Diante de tantas controvérsias, o objetivo deste artigo é discutir o acesso da população de travestis e transexuais aos serviços públicos de saúde na de cidade Fortaleza, Ceará. O aporte teórico-metodológico da Teoria Ator-Rede (TAR) foi utilizado de modo a compreender a rede de actantes (humanos e não-humanos) em interação que produzem, como um dos efeitos, a limitação no acesso à saúde pelas pessoas trans. Concluímos que uma das controvérsias centrais envolvidas no atendimento de travestis e transexuais é a limitação das suas necessidades ao campo da DST/Aids, como um processo de repatologização das sexualidades dissidentes.