A migração de agricultores familiares para zonas urbanas costuma ser analisada em termos de êxodo rural. Este artigo mobiliza a noção de multilocalização familiar para discutir distintos fluxos de recursos (alimento, financeiro e trabalho) entre integrantes de unidades agrícolas familiares que permanecem e as que residem fora dessas unidades. Para tanto, realizou-se uma pesquisa junto a 49 famílias de agricultores da região Oeste de Santa Catarina, escolhidas de forma a contemplar a diversidade socioeconômica da agricultura familiar regional. Dentre os principais resultados, constatou-se que a metade dessas famílias é multilocalizada e que as unidades agrícolas inseridas em mercados competitivos são mais multilocalizadas do que aquelas pouco integradas a esses mercados e com rendas menores. O principal recurso intercambiado é alimentação da unidade agrícola para os integrantes externos, reforçando a importância da produção para autoconsumo tanto para quem permaneceu quanto para quem migrou, mas que reside próximo e mantém vínculos com a família agrícola.
The migration of family farmers to urban zones is usually analyzed in terms of rural exodus. This article uses the notion of multilocational families to discuss various flows of resources (food, finance and labor) among farm family members who remain on or live off-farm. Forty-nine farm families in western Santa Catarina were studied, chosen to contemplate the socioeconomic diversity of regional family farming. Among the main results it was found that half of these families are multi-locational and that farms inserted in competitive markets are more multi-located than those with less integration to these markets and lower income. The main resource exchanged is food from the farm sent to those who reside offsite, reinforcing the importance of production for self-consumption both for those who remain and for those who migrate, but who live close to and maintain ties with the family farm.