Em uma passagem do Diálogo sobre os dois máximos
sistemas de mundo de 1632, Galileo apresenta uma conceituação da
queda de uma pedra do alto de uma torre como constituindo-se “de um
movimento composto pelo comum circular [da Terra, da torre e da pedra
em rotação diurna,] e pelo seu próprio retilÃneo [para baixo]â€.
Essa passagem, conhecida como bizzarria, é freqüentemente brandida
pelos defensores da interpretação da “inércia circularâ€, que afirma haver
um princÃpio de inércia na fÃsica de Galileo que privilegia o movimento
circular como o efetivo movimento inercial, diferentemente do princÃpio
inercial cartésio-newtoniano, que vê o movimento retilÃneo como o único
passÃvel de se conservar sem a ação de uma força.
O presente artigo mostrará – sem tratar dos outros fundamentos da
“inércia circular†– que seu ponto de apoio na bizzaria não é sólido;
apresentar-se-á, também, uma leitura alternativa, unificadora das conceituações
inerciais de Galileo.