Discute-se neste artigo o tema da probidade ou honestidade intelectual [intellektuelle Redlichkeit] em Nietzsche, contra o horizonte – reaberto na contemporaneidade por M. Détienne e J.-P. Vernant – das práticas de engano e formas de inteligência astuciosa a que os gregos denominavam μήτις [má»…tis]. Tomando como contraponto as teses de R. Lopes e W. Stegmaier sobre a probidade nietzscheana, defende-se que, compreendida sob aquele horizonte – de todo, familiar a Nietzsche – a honestidade intelectual, longe de indicar uma submissão a códigos de veracidade moral, ou mesmo acadêmicos, preestabelecidos, diria respeito, antes, à honestidade para consigo, no reconhecimento, reinterpretação e afirmação dos enganos pelos quais se cria a si mesmo – cuja imagem remeteria à ὑπόκÏισις [hypókrisis] grega, enquanto arte do ator e, também, arte do engano.