Neste artigo, propõe-se abordar a trilha sonora no cinema, problematizando a simbiose entre a composição musical e o design sonoro. O cinema se tornou uma arte que imantou muitas competências e materiais para assumirem responsabilidades movediças em prol da ideia do filme, não havendo, por tal razão, nenhuma hierarquização entre música, sons e ruÃdos. Mediante a apreciação da trilha sonora do filme Stalker, de Tarkovsky, valemo-nos do conceito bergsoniano de endosmose (o complexo de durações heterogêneas pelo qual se produz a nossa experiência) para afirmar que a arte cinematográfica não seria uma simples combinação de materiais (texto, imagens, personagens, sons, etc.), mas um agenciamento de durações, uma composição de tempos: uma heterocronia de memórias, experiências e sensações. Na escuta, esse conceito ganha o nome de sonoridades. O paradoxo, condição da força de toda a arte, sobrevém quando o artista logra restituir, mesmo sob as codificações da linguagem, a sensação da imprevisÃvel renovação do mundo-sempre-em-devir.
This paper reports on a study of the soundtrack in cinema, raising issues on the symbiosis
between music composition and sound design. As cinema has become an art that
has gathered competences and materials to play fluid roles depending on the movie conception, there is no hierarchy between music, sounds, and noise. By using the bergsonian
concept of endosmosis (i.e. the complex of heterogeneous durations by which
we experience the world) to assess the soundtrack of Tarkovsky’s movie Stalker, this
study suggests that the cinematographic art is not a simple combination of materials
(e.g. texts, images, sounds, characters), but a composition of durations and tempos:
a heterochrony of memories, experiences, and sensations. In the hearing process, this
concept is called sonorities. Paradox, a condition of power for every art, comes out
when the artist successfully restitutes, even under the language codifications, the sense
of unexpected renewal of a world-ever-to-change.