Para Annette Kuhn, docente da Universidade de Lancaster e investigadora de estudos fÃlmicos, o interesse e envolvimento nas teorias feministas do cinema começou em 1974 - ano em que foi convidada para assistir a uma mostra de filmes feministas, em Nottingham. Segundo afirma, o que mais a impressionou então foi o facto de aqueles não serem apenas filmes sobre mulheres (mulheres vulgares, trabalhadoras, donas de casa, mães), mas também de mulheres. Desta forma, percebeu que, até à quele momento, todo o prazer que havia retirado do visionamento de filmes tinha dependido enormemente da sua identificação com personagens masculinos: “Eu colocava-me, de facto, na posição do homem, do herói, para poder desfrutar – ou talvez mesmo compreender – os filmes.†(Kuhn, 1982: ix). A postura assumida exigia portanto uma negação de si mesma enquanto espectadora, mulher e feminista.
É este o ponto de partida para a defesa de uma proposta cinematográfica: a da criação, em Portugal, de um festival de cinema feminino, exclusivamente dedicado à exibição de obras de mulheres realizadoras. Investir na formação de públicos, devidamente sensibilizados para algumas das questões teóricas do feminismo no cinema, deveria ser um objectivo central na sua constituição.