As formas contemporâneas de inserção do paÃs na economia-mundo resultam muitas vezes em processos conflitivos envolvendo parcelas das populações locais, do Estado e dos agentes empresariais cujos investimentos se baseiam na exploração intensiva de recursos naturais. No Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, os conflitos se multiplicam tendo por objeto a gestão das águas. Na literatura especializada,
os conflitos sobre a água estão associados às condições distributivas, à desigualdade social e ao descompasso entre diferentes representações culturais. Nesse horizonte, este artigo examina, em
particular, o conflito e os desafios vivenciados pelas comunidades ribeirinhas residentes a jusante da barragem de Irapé no que se refere às alterações provocadas em seu modo de vida a partir da instalação da usina no rio Jequitinhonha. Através da experiência como pesquisadores e assessores junto a essas comunidades, o texto discute as controvérsias sóciotécnicas e normativas envolvidas na naturalização da água como mercadoria, destacando seus efeitos na produção de um estado de insegurança e vulnerabilidade imposto à população local.