Sustentabilidade socioambiental da extração de janaúba (Himatanthus Willd. Ex schult.) no Município de Alcântara, Estado do Maranhão, Brasil

Revista Pan-Amazônica de Saúde (RPAS)

Endereço:
Rodovia BR-316 km 7 - s/n - Levilândia
Ananindeua / PA
67030-000
Site: http://revista.iec.gov.br
Telefone: (91) 3214-2185
ISSN: 2176-6223
Editor Chefe: Isabella M. A. Mateus
Início Publicação: 02/01/2010
Periodicidade: Trimestral
Área de Estudo: Ciências Biológicas, Área de Estudo: Ciências da Saúde, Área de Estudo: Multidisciplinar

Sustentabilidade socioambiental da extração de janaúba (Himatanthus Willd. Ex schult.) no Município de Alcântara, Estado do Maranhão, Brasil

Ano: 2011 | Volume: 2 | Número: 4
Autores: Jairo Fernando Pereira Linhares, Claudio Urbano Bittencourt Pinheiro
Autor Correspondente: Jairo Fernando Pereira Linhares | [email protected]

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Himatanthus, Etnobotânica, Desenvolvimento Sustentável, Conservação de Recursos Naturais, Látex

Resumos Cadastrados

Resumo Português:

INTRODUÇÃO: Janaúba é o nome popular mais conhecido usado para as espécies do gênero Himatanthus que ocorrem no Estado do Maranhão. Possui um amplo espectro de usos que vai desde o tratamento de inflamações uterinas, gastrite, uso veterinário, fortificante, complemento alimentar, até tratamento de câncer, etc. O látex da planta é muito utilizado e conhecido regionalmente como "leite de janaúba". No Município de Alcântara a extração de látex de janaúba é tradicionalmente realizada em populações naturais de ecossistemas florestais, e representa fonte de renda complementar para parte da população rural.
OBJETIVO: O objetivo geral deste trabalho foi avaliar a sustentabilidade da exploração atual da janaúba em suas dimensões ecológica, social e econômica no Município de Alcântara. Mais especificamente, procurou-se: 1) Identificar botanicamente as duas etnoespécies de janaúba, a vermelha e a branca que ocorrem nas áreas estudadas; 2) Caracterizar os ambientes de ocorrência e sua flora acompanhante; 3) Caracterizar o sistema de exploração atual de látex de janaúba em seus aspectos técnicos, operacionais e econômicos, em especial a(s) técnica(s) empregada(s) na extração do látex; 4) Estimar a produtividade de látex de janaúba nos seus vários ambientes de ocorrência, empregando a técnica de extração mais usual (esponja e água); 5) gerar indicador de qualidade microbiológica do produto extraído em sistema de extração tradicional, empregando metodologia padrão para análise de alimentos, utilizando os microorganismos indicadores (coliformes, Escherichia coli, enterobactérias, enterococos, Staphylococcus aureus); 6) Identificar os tensores ambientais existentes sobre as populações de janaúba; 7) Estimar os custos de produção da extração de látex; 8) Avaliar as potencialidades das espécies como recurso natural regional.
METODOLOGIA: A metodologia consistiu de várias etapas: formação de um banco de dados para o município; caracterização das unidades de paisagem e tipologias vegetacionais de ocorrência de Himatanthus; análise fitossociológica para determinação de flora acompanhante; aplicação de questionário etnobotânico para caracterização do informante e do sistema de extração de látex; extração experimental nas áreas de ocorrência; estimativa dos custos de produção; análise microbiológica.
RESULTADOS: A janaúba vermelha e a janaúba branca tiveram suas identidades botânicas esclarecidas como Himatanthus drasticus (Mart.) Plumel e Himatanthus obovatus (Müll Arg) Woodson, respectivamente. Ocorrem predominantemente em terra firme, mas também em áreas inundáveis, como as várzeas de restinga. A principal tipologia vegetacional é a mata secundária. A flora acompanhante do gênero é composta por bacuri (Platonia insignis Mart.), tucum (Astrocaryum vulgare Mart.) e a murta verdadeira (Myrcia selloi (Spreng.) N. Silveira). O látex é obtido geralmente de árvores com espessuras entre 64 e 68 cm. A produtividade nas áreas de ocorrência está mais diretamente relacionada à quantidade de árvores em fase produtiva do que propriamente ao porte das mesmas. As árvores produzem em média 0,73 L na estação seca. O modo como é extraído tradicionalmente o látex torna o produto aparentemente suscetível à contaminação microbiológica. Os roçados e a sobre exploração são os principais tensores ambientais da janaúba. O sistema de extração apresentou rentabilidade positiva, muito embora, se o extrativista quisesse receber o valor correspondente à diária praticada na região, teria que extrair aproximadamente 29 L de látex no dia, o que torna a atividade declinante e economicamente inviável a médio e longo prazo.
CONCLUSÃO: Conclui-se, portanto, que medidas de manejo devem ser definidas e implementadas para controle da sobre exploração da espécie, proteção das áreas de ocorrência, melhoria do sistema de produção, tornando-o mais rentável e seguro, do ponto de vista ambiental e da saúde pública. Para que essas medidas possam ser desenvolvidas, é necessário o atendimento de questões referentes a: número efetivo de extrativistas em atividade; levantamento do número de indivíduos de janaúba em fase produtiva nas populações regionais; determinação de intervalo padrão entre as extrações; avaliação dos métodos utilizados tradicionalmente, com determinação daquele que menos expõe o produto a fontes de contaminação; estímulo à formação de associação de extrativistas; efetiva fiscalização dos órgãos ambientais; e, por último, definição e implementação de política de garantia de preço mínimo para o produto.