Procuramos aqui relacionar dois aspectos fundamentais das intuições culturais sobre a passagem do tempo – a temporalidade cÃclica e a contÃnua – com a terapêutica médica e especialmente com a psicopatologia, numa visão crÃtica do constructo moderno da depressão no idoso. Inspirado em perspectivas de natureza antropológica, o texto se apóia na experiência clÃnica cotidiana e na atitude fenomenológica que orienta essa prática. Nas concepções culturais que tendem a perceber a passagem do tempo de forma predominantemente cÃclica, o envelhecer é parte de um movimento eterno e a famÃlia se perpetua em seus descendentes, nas suas tradições, no vÃnculo com a terra ou no exercÃcio do ofÃcio familiar. As transformações culturais que têm proporcionado a passagem para enfoques mais direcionais do tempo vão destacando cada vez mais o papel individual na história social. Quanto mais difÃcil for a passagem de Weltanschauungen tradicionais, de tendência circular, fatalista, repetitiva e eterna para outras de tendência individualizante, burocratizante, planejadora e sucessiva, maiores as dificuldades para uma senectude satisfatória e maior a tendência à medicalização desse fracasso. Esta é a terceira parte de uma série de três artigos.