Este artigo propõe uma reflexão sobre a relação entre natureza e Educação Infantil, articulando os pensamentos de Gandhy Piorski e Paulo Freire. A partir da obra Brinquedos do Chão (2016), Piorski apresenta o brincar como linguagem ancestral, expressão simbólica do imaginário infantil que ganha força no contato com elementos naturais. Para ele, a natureza é território vivo, onde a criança constrói narrativas, interpreta o mundo e estabelece vínculos afetivos e estéticos. Galhos, pedras e sementes tornam-se matéria-prima para a criação, revelando autonomia e criatividade. Em diálogo com essa visão, Paulo Freire, em Pedagogia do Oprimido (1987), defende uma Educação baseada no diálogo, na escuta ativa e na valorização do sujeito. Ao reconhecer a criança como protagonista de sua aprendizagem, propõe uma prática pedagógica que rompe com a lógica autoritária, promovendo a construção coletiva do saber. A escuta é vista como ato político e ético, capaz de revelar os saberes infantis e fomentar uma Educação democrática e transformadora. Ao aproximar essas perspectivas, o artigo defende que o ambiente natural deve ser incorporado como espaço legítimo de formação na Educação Infantil. O brincar livre na natureza, aliado à escuta sensível do educador, favorece o desenvolvimento cognitivo, emocional e da consciência ecológica e social desde os primeiros anos. Afirma-se o direito da infância ao encantamento, à imaginação e à construção de sentidos por meio da experiência estética com o mundo natural, promovendo uma Educação viva, crítica e comprometida com o cuidado.