O objetivo geral deste texto é analisar a organização polÃtica do espaço na América portuguesa a partir da construção do aparelho judiciário
da coroa entre o século XVI e o final do século XVIII, interrogando as causas de seu caráter tardio em comparação com a América
espanhola. O enfoque é, no entanto, mais circunscrito. Partindo da reconstituição de todos os processos de criação das divisões judiciárias
designadas como comarcas, apontam-se quatro fases nesse processo, para depois se discutirem os contextos sociais e polÃticos da funda-
ção dessas novidades polÃtico-administrativas. Defende-se que o retardamento da estruturação da malha judiciária nos Estados do Brasil
e do Maranhão decorre do avanço luso mais tardio sobre o território, embora o confronto dos dois sistemas torne patente outras diferen-
ças. Desde logo, a maior rigidez do modelo espanhol em face do caráter mais experimental do sistema na América portuguesa, mas também
a resiliência do modelo donatarial. Assinala-se ainda que as soluções encontradas resultaram tanto do voluntarismo dos poderes
do centro quanto das iniciativas locais, sugerindo-se que a construção do aparelho polÃtico da coroa (nele incluindo-se a rede judiciária)
podia concitar a conivência, mesmo que efêmera, de interesses sociais considerados por alguns autores contraditórios ou inconciliáveis.