O presente artigo propõe uma interpretação particular das Cartas Filosóficas, texto de Voltaire publicado em 1734 e aqui visto sob o prisma de sua experiência enquanto exilado. Ainda que nossa intenção não seja atribuir ao texto e ao seu autor o peso de intelectuais como Joyce e Victor Hugo (que encontram na escrita a consolidação de um novo compromisso e de uma nova identidade frente ao trauma do desterramento), o fato é que a experiência de Voltaire na Inglaterra parece ter alterado significativamente não só sua visão de mundo, mas os mecanismos utilizados para expressá-la em texto. Nesse sentido, a publicação das Cartas causou um furor até então inédito no contexto da França setecentista, apresentando uma acidez e uma forma de crítica que tornariam Voltaire famoso ao longo da segunda metade do séc. XVIII e consolidariam seu lugar no cânone dos grandes polemistas de língua francesa. A experiência do exílio, portanto, se não definidora de sua poética, certamente lhe concede uma inteligibilidade peculiar e frequentemente ignorada pela historiografia interessada nela.
This article proposes a specific interpretation of Voltaire’s Lettres Philosophiques, published in 1734 and here observed under the light of the author’s experience as an exiled intellectual. Although it is not our intention to assign to the text and its author the weight of intellectuals such as Joyce and Victor Hugo (who, after the trauma of displacement, find in the process of writing not only the consolidation of a new identity, but of a new commitment), the fact remains that Voltaire’s experience in England significantly altered not only his world view, but his means of expressing it textually. In such sense, the publication of the Lettres led to an unprecedented frenzy in the context of XVIIIth century France, presenting an acidity and a specific from of critic that would make Voltaire famous throughout the second half of his century. The experience of the exile, therefore, if not essential to the understanding of his poetics, surely gives them a intelligibility frequently ignored by the specialized bibliography.