Considerando o dicionário enquanto objeto discursivo que estabelece uma relação entre lÃngua, sujeito e história na constituição do discurso lexicográfico, investigamos as definições lexicográficas dos termos dados aos instrumentos e/ou modos de tortura praticados contra presas polÃticas (MERLINO; OJEDA, 2010) durante o regime militar ocorrido no Brasil entre os anos de 1964-1985. Partimos do entendimento de que os dicionários carregam ideologias (PONTES, 2009), constituindo-se em documentos não transparentes e que apontam modos de produção de conhecimento em determinadas conjunturas sócio-históricas, tecendo efeitos de sentido para os sujeitos e para a história desses sujeitos. A pesquisa foi feita em um dicionário de LÃngua Portuguesa, a saber, Ferreira (2004), e foi pautada nas considerações de Fairclough (2001), que percebe o discurso como prática polÃtica e como prática ideológica. Segundo esse autor, como prática polÃtica, além de estabelecer, manter e/ou transformar as entidades coletivas com relações de poder entre si, o discurso estabelece, mantém e/ou transforma as relações de poder, no plano mais geral da sociedade. Como prática ideológica, mostra como, a partir de posições diferentes nas relações de poder, os significados do mundo são constituÃdos, naturalizados, mantidos e/ou transformados pelo discurso. Os primeiros resultados desse estudo indicaram a ausência de aspectos sociais, históricos e afetivos no significado léxico, o que contribui para a permanência de um silêncio que inibe sentidos que se quer evitar, propondo limites discursivos. Indicaram, ainda, um silenciamento acerca de alguns desses termos no referido dicionário, tendo em vista a inexistência percebida.
Considering the Dictionary as a discursive object, one that establishes the relationship between language, subject and history in the creative process of the lexicon, we set up to investigate the lexicographic definitions of the words used to designate the means (instruments) and/or ways of torture used in female political prisoners (MERLINO: OJEDA, 2010), during the military dictatorship in Brazil (1964-1985). We approached our investigation with the understanding that Dictionaries are ideology loaded (PONTES, 2009) thus becoming non-transparent documents in the sense that they will lead to ways of thinking (knowledge) in a determined socio-historical moment, weaving certain "significant" effects to the citizens and to their history. The research was carried on a Portuguese language dictionary, namely, Ferreira (2004), and it was punctuated by Fairclough (2001) considerations, as he perceives Discourse as a political and ideological act. According to this author, while a political act, besides establishing, sustaining, and/or transforming collective entities with mutual power relations, Discourse will establish, maintain and/or transform power relations in the large scope of society. While an ideological act, it will show how different power relations will produce different "meanings" which will be created, become natural, maintained and/or be transformed. The first results of this investigation pointed to a lack of social, historical or sentimental/emotional aspects in the lexicon studied. This results in a kind of "silence", one that inhibits unwanted senses, imposing discursive limits. It also showed the inexistence of some of the terms in the Dictionary, stressing the perceived silence.