Três melancolias, três olhares: de Ofélia, da malmaridada e de Ramon Llull

Ano: 2016 | Volume: 4 | Número: 8

Autores: A. M. Oliveira

Palavras-chave: Literatura medieval. Crise do Sujeito. Melancolia. Monstros. Feminilidade.

Resumo Português:

Este texto parte de reflexões distintas que se encaminham em uma mesma abordagem teórica sobre casuísticas contendo o sentimento melancólico na literatura: 1) o fado de Ofélia no âmbito do drama hamletiano (de sabor medieval tardio), fado este que a leva à morte; 2) a cantiga popular catalã Rossinyol que vas a França, em que uma mulher malmaridada reclama de sua má sorte; e, por fim, 3) o delírio melancólico do escritor e filósofo medieval Ramon Llull. Enquanto as duas primeiras aproximações tratam da “bela sofrida” – Ofélia, a rejeitada e a outra, anônima e malcasada, a melancolia lluliana se fundamenta na psicose megalomaníaca. A tríade exemplifica, já em períodos de fortes sabores do medievo, recorrências da crise do sujeito sintomaticamente expressas na cultura (aqui, em um escopo sempre literário, ainda que Llull seja analisado sob a ótica psicanalítica de Bassols i Puig). Assim, Ofélia, esfacelada pela incerteza e o repúdio hamletiano, esse homem moderno avant la lettre; a mulher sem nome e angustiada que discretamente responsabiliza o pai pela infelicidade conjugal; e a genialidade de Ramon Llull, hoje, o prestigiado pai da literatura da Catalunha, entrecruzam olhares díspares, como setas lançadas em direções variadas, mas que se resvalam: uma para baixo, outra para o alto e a terceira para o Outro.

Resumo Inglês:

This text starts from different reflections that go towards a same theoretical approach around case studies presenting the melancholic feeling in the literature: 1) Ophelia's fate linked to the Hamletian drama (with its late medieval flavor) that leads her to death; 2) the popular Catalan folk song Rossinyol que vas a França, when a malmaridada woman complains about her bad luck; and finally, 3) the melancholic delirium of writer and medieval philosopher Ramon Llull. While the first two approaches deal with the "suffering beauty" - Ophelia, the rejected lady, the other an anonymous girl tied in a unfortunate marriage - the Llullian melancholy is based on the megalomaniac psychosis. The triad exemplified in periods echoing the tones of the Middle Ages demonstrate recurrences of the subject's crisis symptomatically expressed in culture (in an ever literary scope, although Llull is analyzed from the psychoanalytical perspective of Bassols i Puig). Thus, 1) Ophelia, shattered by Hamlet uncertainty and repudiation - this avant-la-lettre modern man; 2) the nameless and anguished peasant woman that discreetly blames her father by her marital unhappiness, and 3) the genius of Ramon Llull, today the prestigious father of Catalan literature, with their disparate looks, can be crossed like arrows thrown towards different directions: one downwards, one upwards and the third towards the Other.