Este artigo apresenta a trajetória de uma família, moradora de uma favela na zona Leste de São Paulo, estudada entre 2005 e 2007. A partir dessa trajetória, discutem-se as implicações políticas da categorização social, muito difundida no senso comum, que opõe “trabalhadores” e “bandidos”. O texto está dividido em quatro partes. Na primeira parte, apresenta-se o contexto de transformações recentes da organização social das periferias de São Paulo. Na segunda, aparecem as características da etnografia empreendida. Na terceira, verificam-se as formas como o “mundo do crime” invade as dinâmicas domésticas das famílias de favela, e como ele passa a disputar espaço, nelas, com outros marcos discursivos socialmente mais legítimos. Na quarta parte, argumenta-se que este processo de disputa, no tecido social, é simultâneo à nomeação bipolar, no mundo público, de “trabalhadores” e “bandidos”. Verifica-se, então, a plasticidade destas categorias e seus modos de operar politicamente.