Em decorrência das transformações sociais recentes, que são causa e
conseqüência da hegemonia neoliberal, vivemos um perÃodo extremamente restritivo
para aqueles que objetivam a emancipação humana. A reestruturação produtiva, as
transformações significativas nas classes sociais, as profundas metamorfoses da
ambiência cultural, o avanço do neoliberalismo e o fim das experiências socialistas
nos conduziram a um quadro societário absolutamente restritivo, do ponto de vista
revolucionário. Em virtude desse quadro, a maior parte da humanidade tem vivido
sem qualquer expectativa de uma existência plena de sentido. As alternativas
polÃtico-teóricas ao capitalismo foram consideradas derrotadas e, segundo os
conservadores de plantão, é chegado o fim da história. Como estamos, segundo tais
analistas, submetidos a esta “metafÃsica do presenteâ€, resta-nos, apenas, o desfrute
de prazeres hedonistas e consumistas. Assim, no lazer, temos a alternativa de
sermos “livres para consumirâ€. A alienação, o fetichismo de mercadoria e a reificação
atingem formas e nÃveis nunca antes vistos.
Serão verdadeiros os fundamentos dessa metafÃsica do presente? Estarão as
realmente fracassadas as alternativas societárias ao capitalismo, especialmente as
socialistas e comunistas? Foram, de fato, superadas as análises e projeções
polÃticas formuladas por Marx? Há, ainda, possibilidades para um projeto
emancipatório para a humanidade? Como fica, no quadro contemporâneo, a clássica
equação marxiana “Emancipação PolÃtica e Emancipação Humanaâ€? Por fim, como
se situaria o lazer nessa equação? Quais são, efetivamente, as suas possibilidades
emancipatórias?
O estudo que apresentamos objetivou abordar esse conjunto de questões. Assim,
por meio de uma investigação que se pôs sob o ponto de vista do materialismo
histórico-dialético, analisamos o tempo presente e suas repercussões sobre o
trabalho – a protoforma de toda práxis social (Lukács, 1968). Inicialmente,
procuramos demonstrar o lugar central ocupado pelo trabalho na ontologia do ser
social. Em seguida, analisamos sua (des) realização na ordem burguesa, já que se
objetiva, quase que exclusivamente, como trabalho alienado. Tal alienação é
acentuada com as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas e, assim,
cresce ainda mais a (des) realização no/do trabalho. Assim, tanto na produção
quanto na reprodução social os nÃveis de alienação crescem assustadoramente.
Como conseqüência, a sociabilidade contemporânea é expressão contÃnua de
desumanização. O lazer, na medida em que tem sua ocorrência no chamado “tempo
livreâ€, está totalmente vinculado ao quadro sinteticamente exposto.
A superação desse quadro exige um projeto de emancipação humana –
revolucionário – que perceba a emancipação polÃtica como um meio e não um fim
em si próprio. As polÃticas sociais se inscrevem nesse processo de Emancipação
PolÃtica e, dentro delas, o lazer. Nosso estudo, por fim, demonstrou que a luta
emancipatória contemporânea supõe a luta pela manutenção e pela ampliação dos direitos sociais. A vitória em tal luta não representará, ainda, a emancipação
humana. Essa só poderá ser obtida com a superação da ordem burguesa. Nesse
processo de emancipação polÃtica, o lazer se apresenta em posição de destaque
quanto ao seu potencial num processo revolucionário, pois, ontologicamente, está
ligado tanto à produção quanto à reprodução das relações sociais.