Este artigo tem por objetivo apresentar uma análise histórica do processo de gramaticalização da estrutura ir + infinitivo em português, em que o verbo ir passa de pleno a auxiliar para codificar o tempo futuro. O corpus analisado é constituído de textos escritos dos séculos XIII ao XX, sendo que deste último há dados também orais. De acordo com o referencial teórico funcionalista e considerando o paradigma da gramaticalização nos moldes propostos por Hopper e Traugott (2003), apresenta-se a trajetória do verbo ir, que amplia seu escopo funcional de movimento no espaço para movimento no tempo, tornando-se um verbo auxiliar e inserindo-se como um instrumento gramatical bastante produtivo na língua. O embrião da forma perifrástica localiza-se no século XIV, mas é no século XIX que o novo futuro se implementa no sistema e vem concorrendo com a forma de futuro simples, chegando mesmo a superá-la em frequência no século XX na modalidade oral da língua.
This paper presents a historical analysis of the grammaticalization of the structure ir 'to go' + infinitive in Portuguese, a process in which the verb changes from main to auxiliary status and becomes an expression of future tense. The corpus contains written texts from the 13th to the 20th centuries, as well as oral data from the 20th century. Adopting a functionalist theoretical framework and the paradigm of grammaticalization as proposed by Hopper and Traugott (2003), we study the trajectory of ir 'to go' as it expands in functional scope from movement in space to movement in time, becoming a very productive grammatical device as an auxiliary verb. Although the embryo of the periphrastic form can be found in the 14th century, the new future tense is actuated only in the 19th century, when it starts to compete with the simple future tense and even surpasses it in frequency of use in the 20th century in the spoken language.