O embate entre apologistas e opositores do projeto energético brasileiro baseado na construção de grandes usinas hidrelétricas (UHEs) envolve uma queda de braço entre argumentos acerca das vantagens econômicas desses megaempreendimentos versus seus impactos socioambientais. Este trabalho procura deslocar os termos do debate ao propor não conclamar o ‘social’ para denunciar o ‘econômico’, mas sim apontar as maneiras pelas quais, nas etapas de planejamento e execução de UHEs, os domÃnios do social e ambiental são incorporados e neutralizados por meio do cálculo. Argumenta-se que a confecção de documentos técnico-administrativos sequenciados e referenciados entre si – a trilha de papéis das UHEs – gera a exterioridade e objetividade dos dados que chancelam tecnicamente obras motivadas politicamente. Problematizar as maneiras pelas quais tais procedimentos obliteram a perspectiva de comunidades afetadas pelas UHEs é, em si mesmo, um esforço de reacoplar ao domÃnio do econômico o domÃnio do polÃtico; isto é, demonstrar como a técnica do cálculo é intrinsecamente polÃtica.