Ao olharmos com alguma distância reflexiva, a nossa trajetória intelectual, somos todos capazes de reconhecer a força e o efeito exercidos sobre nós por certos livros, filmes, aulas ou conversas. No caso dos livros – e de textos curtos, como o são os artigos acadêmicos – a sua importância pode se dar por razões diferentes. Às vezes são importantes porque impulsionam o leitor ao trabalho de colocar o novo texto em diálogo com o que se havia lido até então. Em outros momentos, um artigo pode ajudar a “arrumar a casaâ€, isto é, pode ser útil ao dar organicidade e articulação ao nosso corpo de conhecimentos sobre um dado assunto. Em oposição, alguns textos parecem ter o seu maior mérito na desconcertante e salutar função de “bagunçar o coretoâ€, ou seja, na capacidade de deslocar conceitos, de incomodar “verdades terminais†– para utilizar a expressão de Michel Foucault – e de, novamente, pôr o leitor a trabalhar.